Minha história na música (assim como na vida) é um tanto incomum, mas tudo começou aos 12, quando ganhei o primeiro violão. Sem dinheiro para fazer aulas, fui me virando com as arcaicas revistas de acordes, até minha mãe descobrir um projeto social que ensinava música de graça. Era o Método Jaffé, que não ensinava violão, mas sim instrumentos de arco – e só fomos descobrir isso na hora da inscrição. Assim o violoncelo entrou na minha vida e dali em diante a música virou coisa séria.
Sempre com o erudito e o popular lado a lado, conheci meus primeiros companheiros de banda na orquestra do método e, aos 14, realizei meu primeiro show de rock, já com uma canção de minha autoria. Apesar de todo o progresso no violoncelo, eu desejava mais ser um grande compositor do que um grande cellista. Mas aí vieram os 18, o capitalismo arrombou a porta, minha banda se desmanchou e a música passou a ser ofício de fato, ainda que de forma bastante alternativa: arte de rua.
Tocando cello nas ruas eu conheci o mundo real, saí da casa do meu pai (minha mãe falecera 3 anos antes) e migrei de Santos para São Paulo, morando precariamente com meus companheiros de trabalho. Se o dinheiro era escasso, o aprendizado era abundante. A rua me colocou no mapa e logo eu estava trabalhando com músicos da noite paulistana, tocando e me aprofundando na música brasileira, que viria a ser minha grande paixão.
De trabalho em trabalho, fui orbitando o vasto universo musical: produzi trilhas para séries e filmes, co-criei o projeto “Maratona Cultural: Orquestra na Rua”, toquei em festivais internacionais, gravei / acompanhei uma infinidade de artistas e continuei compondo minhas músicas, porém já sem a ambição de outrora. À esta altura a vida era plenamente adulta, havia-se ido também meu pai e não me sobrava muito espaço para sonhos de tal escala. Até que, aos 27, veio meu filho.
A paternidade me obrigou a desacelerar, abandonar projetos, questionar o que eu fazia e o que realmente gostaria de fazer. Novamente um período difícil, mas de grande aprendizado, onde pude me reencontrar como artista – após quase me perder, é verdade – e alcançar o que buscava para finalmente produzir meu primeiro trabalho autoral. Me alegra poder fazê-lo com tanta propriedade, mesmo que só começando aos 32 (!). Pois é, a vida é muito louca… mas espero que igualmente longa. Afinal, como dizia o poeta, “todas as canções que eu já cantei agora têm de me valer e me fazer acreditar”.
Obrigado por (me) acompanhar até aqui.